Maldita Constituição Federal!

Já faz 4 anos que eu me formei. Desde a prova da OAB, no 1º semestre de 2004, eu não sento pra estudar. Durante a faculdade cheguei a prestar 2 concursos e consegui me classificar em ambos, embora não numa colocação suficiente para ser chamada. Mas tudo bem, eu era só uma estudante e me classificar já era algo inesperado...

Então nesse final de semana, mais de 4 anos depois, eu me propus a fazer meu primeiro concurso público desde a faculdade: Procuradoria do Município de Aracaju!!!! Como eu me saí??? Uma lástima... kkkkkkkk

Tinha lido o edital logo que me inscrevi (em novembro), e só no sábado, véspera do primeiro dia do concurso, eu me dei conta que deveria ler o edital novamente pra saber como seriam as provas, quais as matérias que iriam cair, o que poderia ser consultado (legislação, esse tipo de coisa) e etc.

Ao ler vi que nas provas discursivas eu poderia consultar a legislação não anotada. Ok, pensei eu, acho que tenho um vedemecum por aqui........... E realmente tinha! Só que ele era de 2003!!!! Fiquei pensativa imaginando como seria no dia seguinte entrar no colégio com aquele monte de candidato nerd, que estuda 10, 12h por dia, com um vademecum 2003 debaixo do braço... kkkkkk Ia ser cômico, mas como eu paguei 70 Reais pra me inscrever, achei que em lugar da piada mais cabível seria valorizar meu dinheiro, então eu corri pra Escariz em busca de um vademecum mais atualizado.

*Vademecum é uma compilação de leis (em sentido amplo). Um “livrão” onde você encontra a legislação essencial para operar o Direito nesse país.

Vademecum 2008 em mãos! Beleza, já posso fazer a prova. Hum................ peraí, o edital fala em caneta preta transparente... preciso arrumar uma bic preta!!!! Abre gaveta daqui, abre gaveta dali, e eu achei uma bic preta fubambenta (vocês conhecem esse termo? Ele é ótimo!) no fundo de uma gaveta da sala. Mais uma vez deixei meu pensamento voar e imaginei como estaria a cômoda dos candidatos nerds naquela noite: um vademecum separado e 13226378213791748013 de canetas pretas transparentes separadas, para caso alguma falhar, claro. Bom, pelo menos eu tinha um vademecum 2008 e uma caneta preta transparente. Fui dormir.

No dia seguinte, ao acordar sonolenta, me dei conta que devia ter separado a roupa no dia anterior pra evitar com que eu me atrasasse e desse com a cara na porta do colégio, mas tudo bem, cheguei a tempo, até com uma certa antecedência do horário marcado.

Ao entrar fiquei maravilhada com aquele clima... um monte de gente jovem (na sua maioria até mais novos que eu) junta, até comentei com uma amiga advogada que encontrei por lá – na mesma “bobeira” que eu – que ia passar a me inscrever mais em concursos porque tava muito mais legal paquerar lá do que em qualquer outra birosca dessa cidade. E eu tava falando sério! Gente... um clima bom, um pessoal bonito... kkkkkkkk

Mas fora de brincadeira, vi várias caras conhecidas... um pessoal da faculdade, até gente da minha turma... muito bom rever esses rostos, deu pra matar um pouco da saudade daqueles tempos... parecia que eu tava indo fazer prova de Processo Civil, sei lá, numa época em que meus únicos compromissos eram estudar e ir pro estágio. Era muito bom, embora eu ache que agora está muito melhor! :p

Enfim, subi pra minha sala.

Quando entrei vi uma galera sentada... TODO MUNDO com uma garrafinha de água ao lado. Putz............... claro!!! Água durante a prova, porque não pensei nisso antes? Mal estava eu me lamentando pela ausência da minha garrafinha de água, me sentido uma ET entre aquelas carteiras, quando me dei conta que ao lado de cada garrafinha de água existia uma barrinha de cereal!!!! Porra Paula!!!!!!!!!! Claroooooooooo... barrinha de cereal: tem açúcar, dá uma energizada, é saudável, ajuda na prisão de ventre e de repente poderia te ajudar na sua prisão cerebral, já que vc não estuda, sua anta!

Bom, a essa altura, completamente desconcertada, sentei na minha carteira e, evidentemente, comecei a puxar papo com a galera do lado, com aquele ar de despeito dizendo “não... eu advogo... vim aqui pra ver qual é, sabe? Nem tô afim de passar num concurso, em ganhar 5 mil por mês pra trabalhar apenas um turno...................” Cê jura, né?!

Aí tocou a sirene e começaram a distribuir as provas.

Quando eu me envolvi naquilo e coloquei os poucos neurônios que me sobram de uma vida bastante agitada pra funcionar, comecei a sentir calor e, mais uma vez, fui vítima da minha “ignorância concursal”: eu não levei uma borrachinha pra prender o cabelo, uma piranha ou qualquer coisa que pudesse conter minha franja a cada vez que eu olhasse pra minha prova. Definitivamente: uma anta!

Sobrevivi a manhã do domingo e a tarde também, embora tenha tomado um susto quando pela primeira vez me levantei pra ir ao banheiro e chegando na porta uma fiscal sacou o que parecia uma arma pra cima de mim!!! Ufa... era um detector de metal. Resumindo: só pode mijar e cagar durante concurso público quem não for portador de marca-passo e congêneres... gente, coisa de doido! Ainda bem que eu gozo de excelente saúde... porque ou tinha morrido de susto pensando que ia ser assassinada ou não tinha podido fazer minhas necessidades fisiológicas! Mas enfim, superado o espanto inicial, lá estava eu me sentindo no Aeroporto J. F. Kennedy sendo “rastreada” de ponta à cabeça pelo detector de metal.

Mas vamos deixar isso pra lá, faz parte, né?! Tem gente que ganha a vida fraudando concurso público, a gente tem que colaborar...

Na hora do almoço achei por bem comprar umas barrinhas de cereal e uma garrafa de água mineral para evitar os olhares embaraçosos dos meus concorrentes (sim, eles acharam que eu era concorrente deles... kkkkkkk). Tudo certo então. Ah... tsc tsc tsc... quase!!! Mais uma vez esqueci de pegar algo pra prender o cabelo antes de sair de casa. Tudo bem, eu tinha uma garrafinha de água, uma barrinha de cereal, um vademecum 2008 e uma bic preta fubambenta. Quem quer prender a franja?

Hoje pela manhã mais um período de provas. Eu quase não suportei chegar ao final. É humilhante se dar conta de que em 4 anos as pessoas “foram”, e você simplesmente “ficou”... é decepcionante ver o quão diferente é estar diante de uma prova onde pouco se sabe e muito se frustra, enquanto há muito pouco tempo atrás você levantava da carteira com a sensação de dever cumprido, discutindo as questões com os colegas, ansioso pra receber uma nota, quase sempre boa.

Depois da prova eu só queria voltar pro trabalho. As questões objetivas me deixaram confusa, aliás, ainda estou meio confusa. Estou sem entender como deixei tanto tempo passar, como pude deixar de lado o talento que muita gente disse que eu tinha e que eu achava que poderia ter mesmo. Por que abdiquei dos meus projetos aos 22 anos? Não sei... a vida vai levando a gente, as oportunidades batem à porta e se você não abre logo elas vão embora, e aí você tem que correr atrás delas. É... pelo menos nunca é tarde quando ainda se tem fôlego ;)

É por isso, meus caros leitores, que, gracinhas à parte, estou um pouco frustrada desde ontem. Talvez eu achasse que poderia ser acometida da cohecida “sorte de principiante” e fazer uma boa prova, ou até mesmo estivesse esconcida na arrogância de achar que mesmo mais de 4 anos depois meus conhecimentos seriam suficientes pra eu ter um bom desempenho. Que nada... não é a toa que tem neguinho se matando de estudar...

Em outros tempos um “pistolão” resolveria minha vida e eu poderia fazer o que gosto trabalhando apenas um turno e colocando 5 mil reais por mês no bolso. Maldita Constituição Federal de 1988! :p

Ps. Eu também esqueci de levar algo pra prender meu cabelo na manhã de hoje.