quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Entre o céu e o inferno - Parte 3 [última]

Com as luzes apagadas o avião começou a descer... e pra completar o lance do atraso, do peso, do motor, ele agora passava por mais nuvens pretas e aquela sensação da bunda levantando da cadeira por 1s era mais freqüente... eu já tinha rezado até em aramaico... já nem pedia aos santos, ia direto a Jesus Cristo...

Quando próximos do chão (mas nem tanto), sem aviso, sem motivo aparente, sem pedir licença, o piloto arremeteu o procedimento num rompante de subida que não deixou a desejar a nenhuma montanha russa... nessa hora eu achei que ia empacotar bonita!!! Os passageiros, junto comigo, entoaram um coro igual aqueles que a gente ecoa num trem fantasma... lembrei do filme “O Auto da Compadecida” e pedi logo a Nossa Senhora pra ter piedade da pecadora que vos fala e interceder rápido!!! O coração, a essa altura, pulsava na testa!!!!!

O piloto foi incapaz de dar uma satisfação, aquele filho da puta!!!! A gente se entreolhava e tudo que eu queria naquele momento era um rosto conhecido pra me tranquilizar... com o braço erguido até a poltrona da frente, a merda da cabeça pensante voltou a funcionar como nunca!

Lembrei de todos os acidentes aéreos que eu já tive notícia, de todas às vezes que vi a porcaria do programa do Discovery sobre reconstituição revelando ao final a causa de cada um dos acidentes... dos meus constantes sonhos com avião, incluindo acidentes, embora eu nunca esteja neles... lembrei que todo início de ano é cheio de tragédias... lembrei que meu chefe cedeu o lugar pra eu embarcar naquele vôo e foi em outro... lembrei que iam especular minha última twitada na TV (pra quem não conhece, seria mais ou menos o equivalente a um último post aqui no Tolices, mas com apenas 140 caracteres)... lembrei que como meu cartão de embarque era do vôo cancelado não iam ter certeza se eu estava mesmo naquele vôo e estando na poltrona 4C se minha arcada dentária derretesse ia dar mais merda ainda por conta disso...

Gente, eu pensei MUITO!!!! Seria impossível descrever tudo que pensei aqui... fiquei imaginando: e se eu morrer??? Mas como assim morrer??? Falta TANTA coisa... comecei a pensar nas coisas que ainda quero fazer na minha vida e que eu não quero morrer tão cedo!!!! Passou aquele velho filme na cabeça sobre todas as coisas importantes que eu fiz, dos meus erros e acertos, das pessoas com quem briguei ou pra quem eu ainda não disse tudo que queria... aquela situação de quem acha que vai bater as botas, né?! Ou vocês nunca viram “Beleza Americana"??? :P

Eu já não conseguia disfarçar meu pavor pra ninguém, enquanto o avião parecia fazer voltas e voltas no ar... todo mundo branco da cabeça aos pés, mas ali... passando confiança... kkkkkkk O guri da janela da minha fileira estava vibrando, para aumentar ainda mais o meu ritmo cardíaco... a cada raio que se via da janela ele gritava “MÃE, MÃE... VOCÊ VIU??? ESSE FOI DOS GRANDES... IUPIIII”... eu queria enfiar o guri no compartimento de bagagem, né?! Mas minhas mãos suadas e “empedradas” não saiam do lugar por nada!!!!! Isso quando ele não gritava “ÒI MÃE, ÒI MÃE, TEM OUTRO AVIÃO ALI, TEM OUTRO AVIÃO ALI...”, e eu me esticando toda pra ver se a peste do outro avião estava muito perto da gente, né?! Ô maranhense ‘fio do cabrunco’!!!!!!

Como o desgraçado do piloto não falava nada, e os tripulantes todos amarradinhos em seus lugares idem, a cabeça frenética da criatura aqui já imaginava 1 milhão de motivos pra que o avião tivesse desistido do pouso... mais uma vez não posso descrever tudo que pensei, mas a idéia que mais me apavorou foi pensar que o trem de pouso não tivesse abrindo e que com aquela pista curta de Congonhas fosse impossível pousar de barriga... como eu não conseguia mais controlar meus pensamentos, a idéia seguinte foi: e se a gente não tiver combustível suficiente pra chegar em Guarulhos ou Viracopos (Campinas)???? Òi... só eu mesma, viu?! Puta que pariu...

Vou confessar pra vocês que em meio a uma conversa super pé do ouvido que eu tive com meu anjo da guarda (esse trabalha, viu?! kkkk) o que me confortava era pensar que eu ia conseguir sair daquilo e contar tudo aqui no blog... que eu ia conseguir transformar aquela angústia toda em algo divertido pra vocês e, principalmente, pra mim.

Percebi que um novo procedimento de pouso tinha sido iniciado... sim, porque o mudinho do Calçadão da João Pessoa falava mais que o piloto, né?! E balança daqui, balança dali, ouvi o trem de pouco descendo, o que já foi um alívio bem grande, viu?! Mas faltava chegar no chão, sã e salva... e bem ou mal pousamos na 'super pista' do Aeroporto de Congonhas, com duas freadas bruscas e paradinha já nas luzes amarelas, é verdade, mas chegamos todos ilesos ao que foi um dos piores momentos da minha vida. Agradeci demais por estar viva e por poder voltar pra casa... eu tremia da cabeça aos pés!!!!

Só com o avião parado o piloto veio nos dar uma satisfação... [Jura??? Com a gente em solo????] Disse que o procedimento de arremeter é 100% seguro e que não pousou porque os ventos não eram favoráveis, então teve de ficar esperando autorização pra pousar...

Talvez se esta informação tivesse sido dada enquanto voávamos eu teria poupado uns 1237981389120490 de batimentos acima do necessário, mas tudo bem... quem sabe se alguma coisa maior não estava acontecendo e ele também estava em tenso? Whatever... tô viva!!!!

Jurei que tão cedo viajava de avião de novo e me arrependi amargamente de ter comprado passagens pro Rio no carnaval... peguei um taxi e fui direto pra casa, já passava das 21h!!! Ao chegar, nem deu tempo de tirar a roupa e meu celular tocou... do outro lado da linha um colega de trabalho: “Paula, foi solicitado de última hora e você terá uma reunião amanhã cedo... em BH!!!! Por favor compre sua passagem para o vôo TAM ‘Congonhas – Confins’ das 7h20 que o cliente reembolsará... boa viagem”.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Entre o céu e o inferno - Parte 2

O avião decolou e minha cabeça já não me deixava em paz... falei até pra minha housemate, quando cheguei em casa desse fatídico dia, esse é o mal de quem lê demais, de quem é bem informado... preferiria não saber, por exemplo, que no acidente da TAM em Congonhas, quando a aeronave atravessou a avenida e explodiu no hangar da própria TAM, falou-se de que o avião estava pesado demais, o que teria dificultado a freada... também não queria saber que os passageiros das primeira poltronas não puderam ser identificados porque o calor excessivo derreteu até suas arcadas dentárias... preciso lembrar que minha poltrona era a 4C???

Digamos que eu vivi 1h40m de um intensivo teste para cardíacos. Quando meu coração não estava batendo na minha garganta (juro que senti) ele estava tentando se acalmar sob o volume máximo do meu IPod... tudo isso pra evitar que eu olhasse as janelas e visse as nuvens pretas que chacoalhavam o avião, mas nada demais... turbulência não foi o problema... na verdade eu queria que meu IPod abafasse o barulho “estranho” que o motor fazia... não sei se era estranho ou não, mas ele tinha picos de continuidade e em seguida fazia um silêncio “ensurdecedor”... a essa altura eu já achava que o motor tinha apagado e a gente ia planar até cair no meio do mato... fiquei pensando em qual seria o jeito menos pior de morrer: se o avião se desintegrasse no ar ou se ele se esborrachasse no chão... a essa altura eu já lembrava de tudo que tinha lido sobre a queda do avião da GOL!

Pra completar, minha “companheira de fila” parecia mais preocupada que eu... vinda de São Luis, ela acompanhava o filho (de uns 6 anos) que precisava de visitas constantes a um médico aqui em SP... ele nasceu com problemas cardíacos. Ele na janela, ela no meio e eu no corredor... então, a certa altura ela me perguntou com aquele rosto humilde e desconfiado: “Estranho o barulho desse avião, né?! O que você acha???”. Minha vontade era abrir o berreiro e contar de todo “cagaço” que tomava conta de mim... mas segurei a onda e disse que ela não se preocupasse, que aquilo era normal... eu estava mentindo, né?! Mas do que adiantaria mais uma pessoa em pânico???

Em todas as vezes que o motor “parava” meu coração parava de bater também... o IPod já não tinha mais volume e o que falar daquela hora em que o avião parece que vai perder altitude e sua bunda quase levanta da poltrona??? Nessas horas acho que pegava meu coração no chão e enfiava no peito de novo...

Pensei em chamar a mesma Comissária e implorar pela verdade: “Tá tudo normal????? Que barulhos são esses???? Por que esse motor varia tanto????”, mas imaginava que isso ia chamar atenção de outros passageiros e eu poderia criar um clima tenso no avião... eu não queria isso... lembrei até de um episódio de Friends (adoro!!!) em que Phoebe quer impedir Rachel de viajar, e com ela já embarcada fala por celular que o avião está com um problema na “falangie”, uma peça que simplesmente não existe... basta Rachel repetir isso alto que todos acabam descendo do avião... kkkkkk

Bom, não consegui comer NADA e só fazia rezar pra que aquilo terminasse logo... rezei muito!!!! Foi quando já passadas 1h desse sufoco, em meio a uma área de instabilidade com todos de cintos atados, inclusive a tripulação, o Comandante avisou que estava iniciando o procedimento de descida... pensei: “Ótimo!!! Mais uns 20min, no máximo, e saio desse sufoco...”.

Mas quem for um leitor atento, e souber fazer conta, vai notar que minha previsão estava errada...
(Já sabem... :p)

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Entre o céu e o inferno - Parte 1


São Paulo, 12 de janeiro de 2010. Início de ano, volta intensa pro trabalho, graças a Deus. E assim, de uma semana pra outra, uma ida marcada a Brasília.

Achei legal ir a Brasília porque ainda não conhecia a capital do Brasil, né?! Apesar de ter que ir numa semana complicadíssima no escritório, com um prazo super apertado pra entregar, acordei animada, na medida do possível, às 4h30 da matina (se é que dormi). Destino: o ‘suspeito’ Aeroporto de Congonhas!

Vôo partindo às 6:45h com chegada tranquila ao Aeroporto Internacional Juscelino Kubitschek... da janela do táxi eu ia observando tudo até chegarmos ao nosso destino, eu e meu chefe.

Reunião demorada, mas bastante proveitosa. O almoço mais proveitoso ainda... quem não se lambuza no Porcão??? eheh Tentei manter a dieta ao máximo e não parava de olhar o relógio pra não perder a hora do vôo... eu realmente precisava voltar a SP o quanto antes, a idéia era voltar direto pro escritório, até então.

Chegamos em ‘cima da bucha' ao aeroporto e aí a primeira surpresa: o nosso vôo das 15:10h estava cancelado!!! Pedimos informações a um funcionário da TAM que nos orientou a esperar o próximo vôo com destino a Congonhas às 17:30h... a essa altura eu já estava puta da vida! Tentei pegar um vôo mais cedo em outra companhia, mas todos estavam lotados... o jeito era esperar.

Quando já não se tinha mais o que fazer, começa aquele aglomerado de gente pra embarcar no tal Portão 3. Meu chefe foi então se certificar do nosso embarque, quando um outro funcionário da TAM deu uma versão completamente diferente do funcionário anterior, impedindo que a gente embarcasse... aí foi aquela confusão, chama rádio daqui, corre pro portão dali... sorte que o vôo atrasou, pois alguém vindo do vôo anterior estava passando mal na aeronave.

Conseguimos apenas uma vaga nesse vôo das 17:30h e meu chefe cedeu pra que eu pudesse voltar, ficando de ir num outro vôo da TAM que partiria coisa de meia-hora depois.

Devidamente acomodada na poltrona 4C (sorte ter essa poltrona disponível num vôo onde eu fui a última passageira a ‘garantir passagem’), vi o tempo passar e passar e passar... foram 30 minutos até que rádio irrompesse aquela demora toda:

“Senhoras e senhores passageiros, aqui quem fala é o Comandante. Peço desculpas pelo atraso no vôo, iniciado pelo atraso na chegada do vôo anterior... peço sua licença para passar-lhes algumas informações. A previsão na chegada em SP é de chuva e, infelizmente, esta aeronave está acima do peso para pouso em Congonhas com pista molhada... pedimos a gentileza de que alguns passageiros, se assim desejarem, dirijam-se ao vôo que está saindo praticamente na mesma hora que este para que possamos dar início a nossa viagem... agradeço a compreensão de todos”.

Aí foi aquele alvoroço... parte resmungando, parte preocupada... minha primeira reação foi reclamar na hora, pô, eu já tava puta da vida por ter o meu vôo cancelado do nada, por ter esperado 2h30 naquele aeroporto chato de Brasília, por ter dificuldades para embarcar, pelo atraso desse novo vôo... enfim, falei pra Comissária de Bordo que se ela me garantisse uma poltrona fora da saída de emergência no outro vôo eu iria... foi quando alguns passageiros começaram a sair e eu me dei conta que pegar um avião “pesado” pra Congonhas não era um bom negócio...

Mas aí já era tarde demais, cerca de 20 passageiros já tinham saído e a Comissária deu a transferência por suficiente, fechando as portas da aeronave. Fiquei ‘noiada’ por não ter saído, com essa coisa de destino, do porquê de não ter trocado o meu comodismo por uma aeronave talvez mais segura do que a que eu estava... Apertei o botãozinho sobre minha cabeça e a Comissária veio até a mim, perguntei com todas as letras: “Você tem certeza que essa aeronave tem condições de pousar em Congonhas com a pista molhada em segurança???”, ela foi enfática e explicou que a lotação já tinha uma margem de segurança e que agora estávamos bem abaixo dela... que eu ficasse tranqüila e aproveitasse meu vôo... ai ai...

Bom, com o sol se despedindo, e com 50 minutos de atraso, partimos pra São Paulo... partimos pra Congonhas!

Cenas dos próximos capítulos...
(se o ibope for bom eu conto o resto... kkkkkkkkkkk)

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

2010

Como anda abandonado esse blog, né?! Culpa do Twitter! hihi Mas sem sentimento de culpa vou tentar retomá-lo com mais afinco nesse 2010 que já começou bombando... aliás, o Tolices completou 2 anos no último dia 2!!! Parabéns pra mim!!!! :p

Bom, penso que ficar aqui fazendo um balanço de 2009 seria bastante individualista e chato pra vocês, afinal, o que dizer do ano mais importante e decisivo da minha vida??? Colocar a mochila nas costas e sair de casa foi uma decisão corajosa e bem planejada, que deu certo!

Comecei 2010 em casa, em Aracaju, ao lado da minha família e dos meus amigos. Foram 12 dias maravilhosos de muito sol, cerveja e muitas risadas, com direito a uma passadinha na Praia do Forte... Voltei revigorada e ainda mais determinada pra São Paulo... vâmo que vâmo!

Então, resumo da ópera, mesmo que um tanto atrasada, escrevo para desejar a todos vocês que vêm aqui ler as minhas tolices um excelente 2010... que seja um ano ainda melhor do que o que passou, com mais acertos que erros, muito amor, saúde e paz de espírito!

Em breve novo post, esse foi só uma introduçãozinha, tá?! Acho que vou contar pra vocês da minha experiência de “quase morte” num vôo da TAM semana passada... vou tentar transformar a tragédia em comédia...

Beijos!!!